Pensamentos loucos
A experiência de tentar arrumar a casa foi igualmente falha pelo método que eu comentei na última postagem.
Meus pensamentos andam tão desalinhados...
Eis aqui uma provinha:
Delírios de Escrita
Bom seria se eu me transformasse em escrita. Não de um livro
mas toda a escrita do mundo.
Metamorfosear-me-ia em milhares de palavras, assim que
escritas. Cobriria meu corpo de tinta e de lápis. Nos jardins da infância eu
seria letra, e nomes agarranchados. Uns rabiscos, vacilantes, errantes das
linhas. Mas estaria em companhia de quantas crianças pudessem ter um lápis e
qualquer uma superfície a marcar.
Estaria com os estudantes, em seu dia a dia, ouviria seus
dramas, suas piadas, sentiria seu vigor honesto meio sem querer usar-me para
intermediar o mundo.
Ainda sim conheceria seus sonhos de natal, seus passeios,
seus anseios. Suas faltas, seus sucessos. E ali no meio de tantos dentes de
leite, de borrachas e réguas, teria um escritor. Ávido para pôr no mundo
histórias, de fantasia, de terror, de esperança e de escárnio. E eu me
dobraria, esticaria, uma atleta pelas grafias, pularia de dedos a teclar, derramada
em cada gota de tinta num papel.
Seria então lida, estaria nas mentes, em diversas vozes. Por
vezes seria criança. Uniriam meus sons claudicantemente, uma silaba depois a
outra. Noutra vez nem seria lida. As frases e versos seriam todas lembradas.
Noutra seria um cântico na boca de um religioso. Teria uma voz rouca, filha de
olhos cansados, e de olhos cansados que acabaram de aprender a ler.
Um dia “Era uma vez”, em outro “E no dia seguinte ninguém
morreu”, eu por entre as janelas negras nas letras conheceria toda sorte de
leitor: Aquele que não quer ler, mas é obrigado, aquele que se afunda na
leitura e é quase um personagem. Eu veria suas faces assustadas após mais uma
morte, apaixonada pelas palavras de amor. Quem sabe vez ou outra eu sentiria
uma lágrima sobre mim. Quando virasse
carta com notícia boa, ou carta de despedida. Espalhada pelo mundo. Seria
carta, notícia, verbo, adjetivo. Verdade e mentira. Sim e não.
A cada livro a metamorfose: Vilão, tecelã, criança, cão,
dragão, chuva, pôr do sol. Eu seria o universo conhecido e imaginado de toda a
nossa espécie. Estaria em papéis, telas, paredes, roupas, eu seria ideia, eu
até mesmo estaria nas pirâmides do Egito.
Eu seria a última carta, a última confissão; e então ao fim
da humanidade eu seria o tempo.
Sem que me lessem eu esperaria o fim. Não aquele escrito em
mim mais o fim da aventura humana por comunicar-se.
Bastava imaginar tantos 42, quantos apocalipses e estaria
ali. Escrito no meu livro: Fim.
09:35
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